(Aviso: só leia esse texto se for até o final. Caso contrário, não fará sentido. Quem avisa, amigo é.)
Tem texto que dói para escrever. Este aqui é um. Demorei um bom tempo tendo conversas e mais conversas a respeito do assunto, lendo e digerindo informações. É difícil falar sobre igreja, sobre crente, sobre fiel, sobre evangélico. Esse assunto sempre tende à polêmica e fica difícil se posicionar quando a gente fala disso. Qualquer adjetivo vira uma bomba-relógio. Ainda assim, pretendo falar aqui sobre aquele mesmo duelo de sempre, nas igrejas: a constante rixa entre os crentes, que cobram cristianismo dos outros, e os outros, que cobram cristianismo dos crentes. Mas, mais do que isso, vou falar do extremismo que há no discurso dos críticos e dos criticados; aqueles que falam mal e aqueles que ouvem pior ainda. Mas, como muito mais vasto é o material falando acerca dos críticos, falarei mais sobre os criticados. Pelo que tenho visto, a intransigência parece abundar em ambos os lados. A coisa tá feia. De uns tempos pra cá, chegamos ao absurdo de discutirmos fé sem em nenhum momento falarmos disso. Vociferamos, acusamos, interrogamos, pisoteamos, caluniamos, tudo em defesa de nossas crenças. E quando digo nossas, é porque são nossas mesmo. Nossas e de mais ninguém. Mas vamos parar de enrolação e começar de uma vez, falando desse tal antagonismo. De mimimi, já chega o assunto.
Tem texto que dói para escrever. Este aqui é um. Demorei um bom tempo tendo conversas e mais conversas a respeito do assunto, lendo e digerindo informações. É difícil falar sobre igreja, sobre crente, sobre fiel, sobre evangélico. Esse assunto sempre tende à polêmica e fica difícil se posicionar quando a gente fala disso. Qualquer adjetivo vira uma bomba-relógio. Ainda assim, pretendo falar aqui sobre aquele mesmo duelo de sempre, nas igrejas: a constante rixa entre os crentes, que cobram cristianismo dos outros, e os outros, que cobram cristianismo dos crentes. Mas, mais do que isso, vou falar do extremismo que há no discurso dos críticos e dos criticados; aqueles que falam mal e aqueles que ouvem pior ainda. Mas, como muito mais vasto é o material falando acerca dos críticos, falarei mais sobre os criticados. Pelo que tenho visto, a intransigência parece abundar em ambos os lados. A coisa tá feia. De uns tempos pra cá, chegamos ao absurdo de discutirmos fé sem em nenhum momento falarmos disso. Vociferamos, acusamos, interrogamos, pisoteamos, caluniamos, tudo em defesa de nossas crenças. E quando digo nossas, é porque são nossas mesmo. Nossas e de mais ninguém. Mas vamos parar de enrolação e começar de uma vez, falando desse tal antagonismo. De mimimi, já chega o assunto.
De um lado, temos os
moralistas, tradicionalistas que se permitiram chegar ao fundamentalismo
(porque o tradicional só é feio de uns tempos pra cá). Acusadores. Rigoristas
intransigentes, puristas por capricho. Perfeccionistas. Consumistas da
salvação, especuladores do céu. Meteorologistas apocalípticos ambulantes, mais
entusiasmados com blogs obscuros, teorias da conspiração, novas interpretações
proféticas e a agenda papal do que com a pregação/vivência do evangelho. Faladeiros
amaldiçoados pela própria boca (na qual não entrou imundície, só saiu). Amantes
da forma em detrimento do conteúdo. Vigilantes da norma; militantes de uma
guerra (santa) desnecessária. Mas que, no fundo (tenha fé: há que se chegar ao
fundo), são gente de bem. Gente de bem que faz o mal, mas para o fim do bem
(ai, gente, acho que ficou dúbio). Eles militam em favor dos bons costumes,
pela reforma da saúde, pelo triunfo da verdade, da família
tradicional-funcional, da propagação do evangelho, da moralidade e do
reavivamento. E enquanto isso, espancam o semelhante isentos de peso na
consciência. Inflados de orgulho e superioridade, ressuscitam o Tribunal da
Santa Inquisição. Falam tanto de Deus, mas mais parecem o diabo (até os
demônios creem). Zelam pelas Escrituras, enquanto propagam o ódio.
Maquiavélicos por excelência. Elitistas. Preconceituosos. Alheios à
diversidade. Incapazes de amar. Incapazes de conhecer a Deus.
Do outro lado, temos
os aflitos. Os alvos das críticas, do ódio, da intolerância. Os outros. Pessoas
que vivem de se machucar, ora pela indiferença dos outros para com suas lutas e
suas dores, ora pela total falta de sensatez que permite a constante
fiscalização da vida alheia. São aqueles que são podados, deixados de
escanteio, colocados na geladeira (porque todo espaço, sobretudo o religioso,
possui uma geladeira). Gente que volta e meia erra, e morre de medo de ser pega
(pelos irmãos); pessoas que se sentem perdoadas por Deus, mas não pelos crentes.
Cristãos que, por serem colocados à margem da igreja, acabam vivendo uma
religião marginalizada, a tal da vida dupla. Não raramente, são pessoas que
apenas tiveram a audácia (heresia!) de tentar mudar algo no programa
eclesiástico, algum detalhe na ordem das coisas, nada que abalasse uma crença
fundamental, ou mesmo o manual da igreja. Ai
deles! Por que mudar algo que vem funcionando tão bem há tantos anos? Há
casos, ainda, em que os aflitos são bebês na fé. Gente que atendeu ao chamado e
veio tal qual estava, dilacerada pelo pecado e carente de amor. Engatinhando,
eles vêm para a casa de Deus, mas são impedidos por serem escandalizadores em
potencial. Seu visual é berrante, sua fala é inconveniente, seus trejeitos são polêmicos.
São os barrados do baile, os desajustados, os censurados. Se quiserem entrar
para a igreja tal, terão de se portar como membros da igreja tal. E, por isso,
o que nem Deus pede que seja mudado, o homem pede (e pede para ontem!).
Agora, permita-me
trazer ao palco do antagonismo uma outra triste realidade, e é dela que falarei
mais demoradamente. Dentro desse último grupo, o grupo dos aflitos, há os
coitados, mas há ainda os pseudo-coitados. Vitimistas. Gente que se dói, que se
machuca demais. E acaba fazendo das suas mazelas um panfleto de ataque ao
cristianismo. Quer revanche, quer direito de resposta. E, claro, quer chamar a
atenção, fazendo das compreensíveis lágrimas, um melodrama da Televisa. Há quem
prefira chamá-los de não-julguetes
(certeza que você conhece algum desses leitores ávidos da Bíblia que – sempre –
seja qual for o assunto da conversa, fica de prontidão, aguardando o melhor
momento para recitar, com seriedade hospitalar, o “não julgueis” de Mateus
7:1/Lucas 6:37). Sensíveis, começam e terminam seus manifestos falando de amor,
uma estratégia textual bastante conveniente e até mesmo eficaz. Falam de suas
experiências frustrantes no espaço religioso em questão. Reconhecem que fazer
generalização é errado, e então engatam a primeira marcha falando dos cristãos.
(pausa para o bocejo) Com um discurso magoado e fatalista, apresentam a
realidade que ninguém sabia até então, o furo jornalístico, a verdade que
abalará os alicerces da sociedade: em templos e igrejas, o que menos se vê é
solidariedade, compaixão e amor ao próximo. (!!!!!!!!!) Em seguida, falam de
obras, do quanto foram perseguidos por pessoas que andavam na linha, que
estavam em dia com os dogmas/crenças/regras/doutrinas. Para variar, sempre
rolam expressões como “intolerância”, “dedo apontado”, “ódio”, “fofoca”,
“atirar a primeira pedra”, “fariseus” e por aí vai. Daí em diante, começam as
comparações entre Cristo e os cristãos, que supostamente são seus imitadores. E
surge a lista de sofrimentos: as acusações constantes, os amigos que viraram as
costas, a vergonha de sentar no banco da igreja... Fica evidente que um dos
maiores problemas é a dificuldade que o crente tem com a liberdade alheia. O
discurso é sempre o mesmo, porque é sempre o mesmo problema e sempre a mesma
solução: sair da igreja. Sendo assim, começa um manifesto não mais sobre os
erros da comunidade evangélica, mas sobre as razões que levaram o indivíduo a
afastar-se da comunidade religiosa. Fala-se de um Jesus à parte da igreja,
isolado das religiões, mas internalizado nos corações sinceros (por sinceros,
entenda-se: alheios à religião institucionalizada). E prega-se, para fechar com
chave de ouro, que o amor que não foi encontrado na igreja, foi encontrado no
mundo.
O que me dói é que,
quando vejo esses discursos acontecendo, o final parece sempre triste. Nenhuma
dessas histórias tem um desfecho alegre, a despeito de as pessoas terminarem
seus desabafos em tom de triunfo. Falam do que sentem, do que dói, do que
machuca, e tudo termina em um “...e aí eu saí da igreja de uma vez por todas e
agora estou bem. Grato.” Esse é o final
feliz para a pessoa que escreve um texto desses no seu perfil do Facebook,
ou discursa em uma mesa de bar? A liberdade e o amor (livre) que o mundo
oferece verdadeiramente bastam para a realização eternal dessas pessoas? Mas o
curioso, de verdade, é que há pesar em suas palavras. Fica parecendo que elas
realmente sofrem por terem saído da igreja. Se assim não fosse, porque
escreveriam de maneira tão magoada?
Outro ponto curioso é
por que, em grande parte das vezes, quem sai da igreja, fica alheio a todo tipo
de regra vinculada a ela? Se o motivo era exclusivamente a acusação, a falta de
compaixão/relacionamento/solidariedade, ou a famigerada ausência de amor, por
que abdicar dos preceitos, do viver segundo a norma bíblica? A Bíblia deixa de
ser Bíblia quando o cristão falha? A pessoa só queria fazer parte da igreja
para ser amada? Em nenhum momento ela se sentiu tentada a procurar uma outra denominação
que servisse às suas necessidades de amor? Foi realmente acertada a escolha
simplista de sair de uma vez por todas da igreja e fechar-se para toda e
qualquer religião?
Eu sei que estou
questionando demais, mas não é igualmente curioso que, não raramente, quem se
constrange com a comunidade evangélica, abandona a fé e cai de cabeça nos
prazeres? Seria um escape, um pretexto? Não quero ser intransigente, tampouco
acusador, mas realmente fico pensando na relação que pode haver entre o
hedonismo enrustido e esse desejo por libertação da igreja. Me parece bem mais
interessante me afastar da igreja culpando os membros do que a mim mesmo. Se eu
quisesse ser mais livre, sair sem ser questionado, já que tudo trata-se de
julgamento, eu sairia desse jeito: falando muito de amor e liberdade, e jogando
a culpa do meu sumiço nos meus irmãos.
Outra coisa a se
pensar é que o desamor oferecido por muitos irmãos da igreja só deixa claro
aquilo de mais óbvio inerente a eles: sua humanidade. Eles erram, mesmo quando
fazem de tudo para estar no caminho certo. Me parece ingênuo supor que há mais
amor fora da igreja do que dentro dela, sendo que a falibilidade desse amor é
fruto da humanidade, e, até onde se possa provar, somos todos humanos. A lógica
que leva alguém a pensar que há mais amor lá fora deve qualificar amor como
sendo a não-arbitrariedade, ou a ausência de acusação. Mas, convenhamos:
acusação, intolerância, desamor, injúria, fofoca e o escambau, só se vê na
igreja? Somente no ambiente religioso?
Por último, me
questiono: se Jesus é unanimidade no que diz respeito ao amor, porque quem sai
da igreja fala bem dEle, internaliza Ele na sua experiência sensorial de
espiritualidade, e ainda assim consegue ficar alheio aos Seus ensinamentos? Ele
apenas ensinou amor, e nada mais? Somente a história dEle, na Bíblia, é
verdade? Sinto-me impelido a questionar o conhecimento dessas pessoas. Mas
sinto-me ainda mais impelido a questionar sua vontade, sua preocupação em achar
o caminho certo. E, por consequência, questiono seu respeito pela religião, mas
mais ainda seu respeito pelo Deus da religião. Encher a boca para falar de Deus
sem nem ao menos atentar aos Seus ensinos faz do discurso um amontoado de nada.
Nesse mundo de inúmeras possibilidades argumentativas, muito se fala e pouco se
faz.
Acho triste que o
respeito que alguém tem por uma religião se fie no respeito que tem pelos
religiosos. Mas acho ainda mais triste que a permanência ou não de alguém na
igreja seja pautada pela religiosidade alheia. A amor que deveria manter alguém
dentro da igreja deveria ser o mesmo amor que o trouxe: o de Cristo. Somente
Ele ama em todo tempo, em toda situação, com toda a profundidade. O resto, é
tentativa. Como cristãos, somos imitadores de Cristo, mas isso é muito mais
sobre intenção do que sobre ação. A gente aspira amar como Ele, mas quem disse
que conseguimos? Nosso maior ato de amor é apenas um ínfimo pálido exemplo, se
comparado ao ato da Cruz. Comparar esses amores só deixa claro o quão falhos
somos em nossas tentativas. Não sabemos amar. Por sinal, a convivência na
igreja é um bom exercício de amor. Temos ali inúmeras possibilidades de
interação com o próximo, lidando com suas particularidades, trabalhando em
coletividade, mesmo na diversidade e buscando a uniformidade que vem
exclusivamente pela contemplação do caráter de Cristo. A igreja é importante,
pois é um espaço de convivência com Cristo e com nossos irmãos, visando o
relacionamento, o descobrimento e desenvolvimento dos nossos dons, a uniformidade
no propósito e o suporte solidário. Quando um cai, o outro ajuda a levantar.
Isso é lindo em teoria, e maravilhoso quando em prática. Se sentimos que
falharam conosco nesse aspecto, temos que atentar ao fato de que podemos muito
bem ser a mudança que desejamos. Afinal, em uma comunidade evangélica, jamais
seremos os únicos injustiçados. E quem não deu amor a nós ainda não deve ter
conhecido o amor (Amor) de verdade. Qualquer um pode ser um instrumento para
levar o amor a essa pessoa e, então, mudá-la. Uma vez me disseram que a igreja
é como um hospital: cheia de doentes. Se não fosse assim, ela existiria para
quê?
Enfim, chega de
falação. Quanto aos discursos inflamados e antagônicos que abundam as timelines da vida, apesar de ser um
qualquer, falho (feito você. Bjs), digo o seguinte: convém pensar. Seja qual
for a sua posição, a de agressor, vítima ou vítima-agressora (que faz do
vitimismo um ato de vilania), convém pensar e repensar. No nosso mundo
personalista e humanizado de hoje,
cada vez menos se olha o lado do outro, a não ser quando é para recriminar.
Poucos enxergam que, na realidade, a natureza humana é podre, caída,
tendenciosa à perversão e ponto final (em ambos os lados da discussão). O
bizarro é que o único consenso nessa perene disputa entre críticos e criticados
é que ambos esperam o melhor de seres humanos. Até seria engraçado, se não
fosse triste.
Lamentavelmente, o que
vemos hoje em dia não é a igreja como hospital e sim como loja de conveniência,
igreja com religião “fast-food”, religião “sob medida”, afinal, “posso escolher
aquela que melhor se enquadra com minha ‘fome’ e minha personalidade, não? Deus
é um só, não importa onde/como você O adore, desde que O adore, certo?”. Cada
um quer customizar o Evangelho (Jesus) conforme suas necessidades, sejam elas
rigoristas ou liberais, amorosas ou negligentes.
Deixe eu dizer uma
coisa. Não, melhor, deixe a Bíblia dizer no meu lugar:
“Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; ao
contrário, sentindo coceira nos ouvidos, juntarão mestres para si mesmos,
segundo seus próprios desejos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade,
voltando-se para os mitos. Você, porém, seja moderado em tudo, suporte os
sofrimentos, faça a obra de um evangelista, cumpra plenamente seu ministério.”
2 Timóteo 4:3-5
Em todo caso, não
adianta tentar saciar a sede tomando Coca se nosso corpo precisa é de água.