por Albert Schmitke Azevedo
A tartaruga e o coelho
No preparo e exercício do ministério, existem
dois extremos a serem evitados. Por um lado, está o lado apático. Aquele que
acha que tudo está absolutamente muito bom. Para este "tanto faz, tanto
fez, tudo tem que continuar como está, não mudo nada e ponto final".
Agora, por um outro lado, está aquele que diz que "tudo está errado,
vamos mudar o mundo!"
Ambas visões estão equivocadas quando se fala
de um ministério eficaz. Sobre a apatia porém, em um outro momento será
abordada esta questão. O enfoque deste texto estará naqueles que desejam
"mudar o mundo". Mais especificamente no caso dos “teologandos”: a igreja.
O tipo de ministério que teremos no futuro é
formado pela visão que construímos dele hoje a partir do seminário, daí a
importância de se entender alguns aspectos mais do que somente "teologia
teórica". Refiro-me com isto que este texto é para aqueles que sentem que
são chamados por Deus à obra de ser pastor de pessoas em uma igreja. Este
"ser pastor de pessoas" envolve cuidar e saber instruir, o que pode
implicar em reforma quando as coisas estão indo em rumos "não
bíblicos". A questão é, como fazer isto?
Você conhece a clássica fábula: o arrogante
coelho desafia os outros animais para uma corrida. A tartaruga aceita, para a
perplexidade da lebre. A corrida começa e o coelho corre a grande distância –
tão grande que, na verdade, ele tem tempo para um cochilo. Mas, enquanto a
lebre dorme, a tartaruga fielmente se arrasta e cruza à linha de chegada
primeiro, em uma virada dramática. Moral
da história: quem segue devagar e com constância ganha a corrida.
Com muita frequência, pastores chegam a uma
nova congregação, e rapidamente veem a necessidade de revitalização e arrancam,
à velocidade de uma lebre, para virar a igreja de cabeça para baixo. E a
corrida termina, prematuramente, com uma congregação em conflito e um pastor
ferido e pronto a abrir mão do ministério.
Jovens pastores, em particular, podem tornar-se
vítimas dos perigos de um ministério apressado. Isso ocorre, em parte, porque eles
geralmente têm muita energia e idealismo, mas pouca experiência.
Quatro "coelhos" do ministério
Coelhos aparecem em muitas subespécies. Quer
dizer, há muitas maneiras de precipitar uma reforma e renovação em uma igreja
local, em detrimento da congregação e do pastor. Considere quatro modos
arquetípicos pelos quais nós aspirantes ao ministério agimos rápido demais em
nossos esforços de trazer as mudanças necessárias à igreja (e a FAT também?):
O "purista"
O purista tem fortes convicções teológicas. Ele
tem sido abençoado com uma clara visão bíblica para a vida da igreja e sua
prática. Ele corre obstinadamente, sem desviar do caminho.
Infelizmente, ele se move rápido demais para a congregação.
Nos primeiros momentos já propões muitas mudanças.
Ironicamente, em seu zelo pela fiel teologia da
igreja, ele trata com rudeza o verdadeiro povo da igreja. Ele
"esbraveja" conhecimento, mas falha em mostrar ao seu povo a paciente
graça de Deus em sua maneira de lidar com eles.
Infelizmente, ele pode ir embora como um mártir
teológico em sua própria mente, cego para os seus equívocos. Mais triste ainda,
aquela igreja agora está vacinada contra a reforma bíblica de que ela
desesperadamente precisa.
O "pragmático"
O extremo oposto do purista, o pragmático fará
“qualquer coisa que funcione” para trazer as pessoas à igreja e mantê-las lá.
Nada está fora dos limites, contanto que faça a igreja crescer e não envolva
imoralidade flagrante ou óbvia heresia. Um pragmático carismático e talentoso
pode fazer uma igreja crescer de 50 para 500 em pouquíssimo tempo, com uma
sagaz mistura de humor, tecnologia, liderança e personalidade.
O pragmático pode descobrir como fazer
frequência da igreja crescer rapidamente, dando todas as aparências de
revitalização. Mas algumas questões importantes permanecem: as pessoas estão verdadeiramente sendo
convertidas ao evangelho, arrependendo-se dos pecados e confiando em Cristo? Ou
as pessoas estão apenas sendo “igrejadas” de um modo eficiente? Esse pastor
está fazendo discípulos de Jesus ou apenas fãs da igreja da última moda? Ele está cultivando uma "sequóia
espiritual" (árvore que atinge 100 metros de altura a vive milhares de
anos), que cresce lentamente, mas adquire uma estatura majestosa? Ou ele está
meramente plantando uma rosa, que hoje desabrocha, mas murcha amanhã?
Infelizmente, quanto mais rápida e efetivamente
alguém é capaz de aumentar a frequência de uma igreja, menos provável é que
esse alguém questione teologicamente seus métodos. Números nos enfeitiçam.
O "imitador"
O imitador economiza tempo pegando um atalho:
ele meramente replica em sua própria congregação a filosofia, os programas e a
estrutura da igreja de outros. Por que reiventar a roda? Por que não
simplesmente comprar o livro, participar da conferência, adquirir o kit e
baixar os sermões de outra igreja bem sucedida?
Aprender com outros modelos de igreja não é
errado. De fato, a Escritura nos ordena a seguirmos os exemplos piedosos de
outros (1Coríntios 11.1; Filipenses 3.17) e o apóstolo Paulo chega a apresentar
uma igreja local inteira como modelo para outros crentes (1Tessalonicenses1.7).
Contudo, nós pastores nos
tornamos imitadores quando impomos o modelo de uma outra igreja sem considerar
amorosamente o caráter, a história e a cultura singulares de nossa congregação.
Nós também erramos como imitadores ao deixar de avaliar o nosso modelo
preferido à luz do ensino bíblico acerca da igreja local.
Fazer uma exegese fiel de sua igreja e de sua
Bíblia é um trabalho de tartaruga. Não é algo que possa ser feito da noite para
o dia.
O "narcisista"
Esta última lebre talvez seja a mais perigosa.
O narcisista vê o ministério da igreja pelas lentes de sua própria narrativa
pessoal. Ele vê a renovação e a reforma congregacional como o palco para
estrelar um roteiro centrado em si mesmo.
Talvez ele sonhe ser o cara que ajudará a
igreja tradicional e enfadonha a se tornar vanguardista. Ou talvez ele se
imagine como um ativista que confrontará a complacente igreja de classe média
acerca do envolvimento com os pobres. Ou talvez, em sua mente, ele seja a
reencarnação de Lutero, procurando uma igreja doutrinariamente vacilante na
qual possa fixar as suas 95 teses. Ou talvez ele simplesmente se veja falando a
milhares de pessoas e queira transformar a sua congregação naquela
"megaigreja". É o sonho americano em sua versão pastoral.
Essas ilusões de grandeza tendem a produzir
pastores impacientes. Quando
estamos cheios de nós mesmos, nós interpretamos reveses no ministério como
fracassos pessoais e diminuições na membresia da igreja como ameaças pessoais. Nós corremos como homens desgovernados
quando tudo diz respeito a nós.
Agarre-se ao seu casco
E ali está tartaruga. Enquanto os coelhos
arrancam em disparada, ela se arrasta fielmente adiante. A tartaruga se
empenha pela renovação por meio de um ritmo constante de pregação expositiva
semanal, deixando que a Palavra faça sua obra de transformação. Ele dedica
tempo significativo à oração, clamando a Deus por revitalização. Ele caminha
devagar o bastante para conhecer e ouvir os membros da igreja, entendendo que
não se pode verdadeiramente reformar aquilo que não se ama. Ele tem uma confiança abrangente na
soberania de Deus em produzir a mudança necessária, então aqueles reveses caem
sobre ele como chuva sobre um casco. Se Deus quiser, a tartaruga está disposta
a dispender toda a carreira em uma única igreja. Sua narrativa pessoal é simples: eu
sou apenas um servo de Jesus. É impressionante quão longe uma tartaruga pode ir.
Conclusão
Toda igreja precisa de renovação. A igreja está
sempre se reformando. Assim,
esforcemo-nos por renovação de um modo que ponha os holofotes na Palavra de
Deus, no tempo de Deus e no poder do evangelho, e não em nossa própria
criatividade, técnica e personalidade. Então,
quando as pessoas lhe perguntarem como nós mudamos alguma coisa, nós não
exibiremos nossas musculosas pernas de coelho, mas sim, lembraremos das
palavras de Paulo: "A excelência do poder seja de Deus e não de
nós". (2 Cor 4:7).
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Referência:
Texto
adaptado de Jeramie Rinne.
Disponível
em: http://www.ministeriofiel.com.br/artigos/detalhes/755/Revitalizacao_de_Igreja_Um_Trabalho_de_Tartaruga_Nao_de_Lebre