“Uma grande nação é completamente destruída por um poder inimigo qual
nunca se viu antes. Poucos são os sobreviventes e, em meio ao caos, três
jovens, ainda inexperientes, tornam-se a única esperança que persiste. Contudo,
a cada novo passo dado, percebe-se que tramas ainda mais complexas estão se
desenvolvendo simultaneamente.”
Tal descrição pode dar margem para
muitas perguntas e suposições. Porém, confesso que me impressionei quando, pela
primeira vez, entrei em contato com essas palavras, escolhidas cautelosamente
por um amigo após ter lido um esboço de um livro que está sendo desenvolvido. Mas, vamos
por partes.
Meu nome é Lucas Fávero. Curso
teologia desde 2013 na turma A. Em meio a colegas com as mais diversas
formações e dotados de incríveis dons, sempre questionei-me sobre qual poderia
ser minha função específica na pregação do evangelho. Confesso que até hoje não
cheguei a uma resposta definitiva. Mas, em todas as vezes que lia o relato
sobre a parábola dos talentos, ou ouvia uma pregação a esse respeito, sentia
surgir dentro de mim uma dúvida que, de certa forma, incomodava: qual seria o
dom que Deus havia me dado para utilizar em Sua obra?
A afinidade com as palavras e o
desejo intenso de escrever acabaram por me nortear dentro dos primeiros semestres
do curso e, por fim, decidi que já estava mais do que na hora de dar início a
algo que realmente pudesse ser utilizado por Ele. Com a ajuda de colegas com
maior experiência e aconselhando-me com pastores entendidos no assunto – sem
nunca, claro, esquecer-me de suplicar pela guia do Senhor – comecei a compor
uma narrativa que envolvesse vários aspectos um tanto quanto inusitados. A
princípio, a ideia pareceu-me um pouco deslocada no conceito de pregação do
evangelho. Mas, à medida que fui me relacionando com o material e,
especialmente, entrando em contanto com um grupo muito especial de pessoas,
percebi que talvez não estivesse andando às cegas.
Desde que comecei o curso, trabalho
junto com rapazes na faixa de idade que vai desde os quinze até dezoito ou
dezenove anos. Em meus diálogos com esses meninos, notei neles uma ânsia por
saber mais sobre a Bíblia. Porém, por algum motivo, existia uma espécie de
barreira que não era transposta e eles, na sua grande maioria, ficavam apenas
na vontade. Desde então tenho aplicado meu projeto junto desses rapazes na
tentativa de aproximá-los das Sagradas Escrituras e, para minha felicidade,
tenho notado bons resultados. Mas gostaria de pontuar algumas coisas que
acredito serem fundamentais.
1) Esse trabalho não está sendo desenvolvido
isoladamente. A estreita ligação que tenho conseguido estabelecer com a Bíblia
é, talvez, o ponto que mais chame a atenção desses meninos. Em sua grande
maioria, aqueles que leram a história que está sendo composta começaram a ver
certa similaridade com fatos verdadeiramente vivenciados na narrativa bíblica
e, curiosos pela veracidade ou não dos fatos, correm às Sagradas Escrituras
para tirar suas dúvidas;
2) a linguagem utilizada também facilita a
compreensão, cativando desde o início a atenção de pessoas que não mantém uma
comunhão diária; e
3) em um mundo onde as narrativas que mais se destacam são,
na verdade, abarcadas de terríveis erros e distorções teológicas que prejudicam
àqueles que leem, tal projeto acaba surgindo como uma vertente que, mesmo em um campo delicadamente complexo, oferta a
possibilidade de ser uma ferramenta positiva.
A narrativa desenvolve-se baseada
em alguns conceitos advindos da cultura judaica. Porém, desde o início torna-se
claro que a história nada mais é que uma fantasia, e não um fato histórico.
Alguns até mesmo levantam questionamentos sobre a validade de tal gênero no que
se refere a princípios teológicos. Mas, ainda assim, é sempre bom relembrarmos
a positiva visão que se desenvolve no entorno das sete crônicas compostas pelo
renomado C. S. Lewis. Não reivindico dom similar à mim. Porém, em uma sociedade
onde o jovem submerge cada vez mais em mundo de fantasia, procuro utilizar
minha simpatia com a escrita para tentar criar uma ferramenta que alcance essas
pessoas onde elas estão, trazendo-as para o que é certo. É importante lembramos
que muitos métodos, que por várias gerações tiveram êxito – e ainda o tem com
algumas pessoas – tornam-se obsoletos nos dias atuais. Não podemos tentar
alcançar jovens pós-modernos com os mesmo instrumentos que eram utilizados a
vinte ou trinta anos atrás. A forma de pensar não é a mesma. A essência sim!

Confesso que tal proposta é, de
certa forma, um pouco arriscada. O simples fato de ser uma pessoa me coloca em
grande possibilidade de cometer terríveis erros. Mas – e esse é meu constante
pedido à Deus – se nenhuma tentativa for feita, como podemos ter certeza que
haverá fracasso ou sucesso? Se Ele nos concede dons é para que os utilizemos em
Sua causa, aprimorando-os cada vez mais para que possamos, no fim, devolvê-los
ainda maiores ao Senhor. Um professor de teologia repete muitas vezes a clássica frase que: "para que uma página seja escrita, é necessário que outras mil tenham sido
lidas". Completo dizendo que, para que algo seja realmente bom, somente mil
páginas não são suficiente.
"Para que uma página seja escrita, é necessário que outras mil tenham sido lidas"
Para finalizar, lembro-me agora de
uma pergunta que por vezes ouço quando comento sobre esse projeto. É correto valer-se
da ficção como uma ferramenta na obra de Deus? Sou apenas um teologando, com
muitas coisas há aprender. Mas, em minha humilde opinião, não duvido que uma
arma tão poderosa como essa – que tem, sim, sido utilizada catastroficamente
por Satanás em sua obra de engano – possa ser aplicada pelo Senhor. Ele, que
foi capaz de no passado falar até mesmo por meio de mulas, com certeza há de
usar qualquer coisa para pregar Sua mensagem. Cabe a nós apenas permitir que
Ele atue, e não que nossas vãs suposições atrapalhem Sua obra.