Em novembro do ano
passado, encontrei o Dr. Michael Hasel, professor de arqueologia na Southern
Adventist University, num congresso
teológico em Baltimore, nos Estados Unidos. Conversa vai, conversa vem, e ele
me convida para participar como voluntária em uma escavação arqueológica em
Israel em junho/julho deste ano. Seriam seis semanas mexendo com terra e
conhecendo o país (apesar da viagem acabar antes que esperado, por causa da
guerra). Foi para isso que eu me inscrevi, mas o que eu ganhei foi muito mais.
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Primeiro dia de trabalho nas escavações |
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Logo da quarta expedição a Laquis |
Estávamos escavando na
cidade de Laquis, a segunda maior cidade em Judá nos tempos bíblicos. Não fomos
os primeiros a escavar lá; três outras expedições já haviam passado anos
trabalhando em Laquis. Mas, certamente é um trabalho a longo prazo: junho/julho
de 2014 foi a primeira temporada de muitas. A escavação está sendo coordenada
pela Southern Adventist University, liderada pelo Dr. Hasel, e pela
Universidade Hebraica, de Jerusalém, com o Dr. Yosef Garfinkel. O principal
objetivo da 4ª
expedição em Laquis é procurar indícios que apoiam o texto bíblico, respondendo
à pergunta: havia realmente um reino unificado, com cidades fortificadas, na
época de Davi e Salomão?

Nossa semana de
trabalho era de domingo a quinta-feira. Acordávamos as 4h da manhã, pegávamos o
ônibus as 4:50, e, após o culto (vendo o nascer do sol), começávamos o
trabalho. O dia começava cedo porque assim pudíamos escapar do sol e calor das
horas da tarde. Às 13h já estávamos no ônibus de volta para o acampamento.
Depois do almoço, tínhamos tempo livre até 16:30, quando começávamos a lavar os
pedaços de cerâmica encontrados durante a manhã. Às 18h ouvíamos palestras de
diversos temas relacionados à arqueologia, e, após a janta, a maioria já ia
dormir.
A primeira pergunta
que as pessoas fazem é: vocês realmente acharam alguma coisa? Eu também fui
surpreendida pela resposta: sim, e muita! Como já mencionei, toda tarde
ficávamos mais de uma hora só lavando os pedaços quebrados de cerâmica
encontrados pela manhã. Eram dezenas de baldes, alguns com centenas de cacos,
todos os dias! Embora a maioria fosse descartado depois, isso era importante
para a datação da nossa área de trabalho. Não, eu não aprendi a datar cacos de
cerâmica; somente com muito estudo e experiência se consegue isso. Mas é muito
emocionante saber que você está mexendo em coisas que foram seguradas milhares
de anos atrás pela última vez.
Além dos cacos de
cerâmica, quando chegamos a um nível de destruição, encontramos também vários
jarros e duas lâmpadas, intactos, ou quase intactos. Mas mais emocionante era
quando alguém encontrava algum objeto especial. Todos paravam de trabalhar, e o
Dr. Hasel nos explicava a importância daquele achado. Encontramos dois
figurinos, duas alças de jarro com selos LMLK (“para o rei”), uma alça de jarro
com selo pessoal de alguém e, o que deixou o Dr. Hasel ainda mais feliz, três
selos soltos. Diz o Dr. Hasel que ele nunca encontrou tanta coisa importante em
tão pouco tempo. Também na lista de achados estão: pesos de tear, pontas de flechas,
muitos ossos de animais, até algumas conchas.
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Shekel |
O objeto mais interessante que eu
mesma encontrei foi um peso de Shekel, uma bolinha de cerâmica usada para pesar
dinheiro. Fora os objetos, haviam pedras formando paredes de casas ou de muros.
No quadrado onde eu estava trabalhando, encontramos um pedaço do muro do pátio
do palácio (o palácio já foi descoberto em outra expedição).
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Companheiros de quadrado |
Não posso deixar de
mencionar as pessoas que conheci e os amigos que fiz. No grupo da Southern,
além de alunos da faculdade, haviam alguns bolivianos e sul-africanos. Embora
não trabalhassem na mesma área que nós, havia também israelenses (da
Universidade Hebraica), coreanos e outro grupo de americanos. Nos intervalos,
todos nós nos reuníamos para comermos juntos e vários de nós tivemos a
oportunidade de testemunhar para eles. Era um grupo bem especial.
Três ou quatro pessoas
trabalhavam em um quadrado de 4x4m. O que mais fazíamos era soltar a terra com
uma picareta, encher baldes de terra e esvaziar a terra em outro lugar. No fim
das três semanas, nosso quadrado estava com cerca de 1,70m de profundidade
(façam as contas, qual o volume total de terra!). Ao final de cada dia
estávamos tão cobertos em terra e poeira que, após lavar as mãos para o almoço,
parecia que estávamos de luva branca. Até os pés ficavam empoeirados, apesar da
meia e do tênis. Às vezes, o corpo estava tão dolorido de tanto trabalho que
levantar da cama era a parte mais difícil do dia. Mas com certeza valeu muito a
pena e eu faria tudo de novo. Fiz grandes amizades, aprendi a valorizar a
importância da arqueologia bíblica e a Palavra de Deus se tornou mais viva e
concreta para mim. Agradeço muito a Deus por ter tido esta oportunidade e por
ter conhecido a Ele de uma forma tão especial.
(Para mais fotos,
curta a página “Institute of Archeology at Southern Adventist University” no
Facebook)
Leia a segunda parte dessa experiência Aqui: Jerusalém, Jerusalém - Reflexões sobre um conflito
E o outro texto da Keldie aqui: Bogi - De Bogenhofen para o UNASP
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Jarra de cerâmica |